Recordação: a volta do MDB. A saga de Ronan Gonçalves (em Jataí e na África)

Ulisses Guimarães discursando em Jataí (1976)  A mudança do nome do PMDB faz lembrar a saga do médico e ativista político Jataiense, Ronan Gonçalves da Silva, filho do ex-vice-prefeito Miguel Narciso (década de 1950), que foi um dos que criaram o diretório do MDB no município ainda nos chamados anos 70 tendo sido, inclusive, seu primeiro presidente. Na vinda do saudoso Ulisses Guimarães à Jataí, em 1976, por ocasião da vitória do prefeito Mauro Antônio Bento (MDB), Ronan recebeu de suas mãos uma bandeira do partido fundado em 1966. Identificado na sigla dentro dos chamados “autênticos” (ativistas mais radicais contra o sistema), o médico atuou para vencer o partido do regime militar na época, a ARENA. Até aquele momento, as eleições eram disputadas em formato de bipartidarismo, ou seja, apenas entre duas siglas: ARENA (situação pró Regime Militar) e MDB (oposição de Esquerda). 

  Por conta de seus pontos de vista e sua influência, o médico chegou a ter problemas sérios com alguns dos políticos governistas de Jataí. A situação levou Ronan a ter que deixar a cidade na calada da noite em uma reviravolta que o levou a ingressar em uma missão humanitária da ONU rumo a grande cidade de Luanda, capital da Angola (África) país que estava em evidência em toda a mídia mundial. Lá, Ronan chegou em pleno período de revolução com a Guerra Civil de 1975 a 2002 ocorrida pós independência de Portugal. Também viu, com os próprios olhos, as consequências da disputada pelo poder governamental entre as três siglas: MPLA x FNLA x UNITA. O brasileiro exerceu a função de médico hospitalar estrangeiro na capital atendendo uma grande quantidade de feridos e mutilados. Profundamente tocado, Ronan voltou ao ativismo político e presenciou a hegemonia da sigla MPLA no país. Só que ele acabou ficando na linha de fogo. 

  Com o governo misto de transição revolucionário formado pelas três siglas expulsando a população branca e estrangeira de Angola, o médico ativista se viu em perigo. Mesmo com três lideranças, não havia paz e a Guerra Civil entre MPLA (comunista) e UNITA (anticomunista) estava em pleno curso. Diz-se que ele foi confundido e recebeu ordem de captura por um dos lados. Alertado e assustado, o Ronan teve que sair fugido de volta para o Brasil – conta-se que o médico deixou Luanda disfarçado para não ser reconhecido no aeroporto. Depois desse episódio, Ronan Gonçalves retornou à Jataí para continuar sua luta e manter suas atividades em prol da sociedade local. O ativista viu o MDB triunfar e se transformar em PMDB com o fim do bipartidarismo. Sua militância continuou, mas de forma moderada até os chamados anos 90.

Foto: O saudoso Ulisses Guimarães em comício na cidade de Jataí em 1976: saudações à Ronan Gonçalves (acervo: Gênio Eurípedes Assis)

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